divagações concretas concretudes abstratas

e um copo vazio está
cheio de ar

4.3.08

Ao som de Sex Pistols


I
Desligou o telefone, ficou por algum tempo em silencio. No rádio tocava alguma musica chata. Pegou no porta luvas um cd do Sex Pistols. Faixa três. Som alto. Pegou o telefone e ligou de novo.
Falava com a mãe sobre umas contas que tinha de pagar ainda naquele dia.
- Dá pra senhora pagar pra mim mãe, por que hoje é o ultimo dia e eu não vou conseguir chegar a tempo de pagar. Ta bom? Ta bem mãe. To no carro, depois eu falo com a senhora. Beijo. Ah mãe. Te amo viu.
Desligou o telefone e continuou acelerando o carro. Cinco minutos metodicamente marcados no relógio e novo telefonema.
- Alô, sou eu, então. Tudo bem com você? Eu tava querendo saber de você. Fiquei sabendo que fraturou o braço, ta tudo bem? Então já deve estar tudo bem né? Olha, eu sei que você não quer falar nessas coisas, mas eu queria dizer que você é muito especial. Só isso. Muito especial. Não vou mais falar nisso. To dirigindo, tenho de desligar. Beijo.

II
A mãe andou pela casa procurando as contas que tinha a pagar. Pegou as duas na gaveta do criado mudo. Quando pegou as contas viu algumas fotos do filho com a ex namorada. Algumas fotos rasgadas, outras riscadas de caneta e uma ou outra ainda intacta. Colocou uma vestido florido e tomou o rumo do banco. No caminho, olhando com mais atenção percebeu que as contas não venciam aquele dia. Ainda, três ou quatro dias pra pagar.
Sem saber por que, sentiu uma coisa estranha. Um aperto no peito. Uma angústia que na hora pensou ser gases.

III
Ela entrou em casa, jogou a chave na mesinha de centro, foi até o banheiro, lavou o rosto, foi a cozinha, abriu a geladeira, pensou em comer alguma coisa, pegou uma maçã. Na sala foi ligar a televisão, foi ao telefone e viu duas mensagens na secretária eletrônica.
- Oi Laura, tudo bem amiga? Vamos fazer alguma coisa nesse fim de semana. Tô aqui em São Paulo. Cheguei hoje de manhã. Me liga amiga! Beijo
Riu irônica, foi até o banheiro.
- Alô, sou eu, então. Tudo bem com você? Eu tava querendo saber de você. Fiquei sabendo que fraturou o braço, ta tudo bem? Então já deve estar tudo bem né? Olha, eu sei que você não quer falar nessas coisas, mas eu queria dizer que você é muito especial. Só isso. Muito especial. Não vou mais falar nisso. To dirigindo, tenho de desligar. Beijo.

IV
Ele parou o carro no acostamento e chorou. Queria pensar em alguma coisa, queria desistir de tudo, mas num ímpeto, ligou o carro. Avançou na contra mão e acelerou. A pista era de altíssima velocidade. Um caminhão baú quase bateu, mas conseguiu desviar, alguns carros passaram buzinando e piscando farol, mas ele só pensava em acelerar o carro ao som do Sex Pistols.

V
Ela saiu do banheiro, e colocou de novo a mensagem na secretária. Riu e balançou a cabeça negativamente. Foi até a cozinha, preparou uma salada bonita e colorida. Na televisão o plantão anunciava um carro em alta velocidade andando na contra mão na Via Dutra, chocou-se com uma carreta.
- Vejam as imagens fortes. O Golf verde, andou por quatro quilômetros na contra mão. Veja que ele consegue desviar de alguns carros antes de bater de frente com a carreta. O motorista da carreta não sofreu nada. O motorista do Golf morreu na hora. Pedro Laef de trinta e quatro anos, era escritor e não deixou filhos.
Deixou o prato cair no chão. Correu ao telefone e de novo colocou a mensagem pra ouvir.
- Alô, sou eu, então. Tudo bem com você? Eu tava querendo saber de você. Fiquei sabendo que fraturou o braço, ta tudo bem? Então já deve estar tudo bem né? Olha, eu sei que você não quer falar nessas coisas, mas eu queria dizer que você é muito especial. Só isso. Muito especial. Não vou mais falar nisso. To dirigindo, tenho de desligar. Beijo.

Ela chorou lágrimas de certeza.

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to correndo.sempre pressa.meio atrasado.ligação perdida.olhar atento.desculpa o atraso.to indo embora.quer carona?aqui desse lado,aqui..assim mesmo.meu fluminense e meus desejos.um beijo do seu.eu aqui em qualquer lugar aqui, espaço pra vazão a idéias. ficção criando uma verdade pseudo pessoal. "eu quero uma verdade inventada"

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