divagações concretas concretudes abstratas

e um copo vazio está
cheio de ar

25.1.13

o dia que vi um alce na rua


era carnaval, todo mundo fantasiado.
mas aquele alce, eu sabia, aquilo não era fantasia.
fui atrás dele numa das ruas do centro. tudo bem, eu tava bêbado mas
era um alce. de chifre e tudo. eu tinha certeza que era um alce no meio da praça XV. ele parecia estar indo embora. cansado da folia, sei lá
entrou no onibus, fui atras dele. só eu mesmo pra entrar num ônibus atrás de um alce. me intrigava aquele alce na rua. e ninguém falava nada, todo mundo agindo normalmente.
ah, é carnaval, todo mundo tira a fantasia. cheguei perto dele. e ele tinha pelos , chifres, dentes enormes
usava um óculos redondo de leitura e chapéu coco.  lia o valor economico, o alce.
deixei cair o meu celular e de leve encostei na pata dele. tinha pelos. e casco. era um alce, tive certeza!
senti os pelos, fiquei com um pouco de nojo mas resolvi puxar assunto:
- olá.
- olá -  respondeu o alce com voz rouca e grave. lembrou um locutor da rádio globo que eu ouvia nos programas de madrugada.
- bonita fantasia. - comecei.
- ah, obrigado. a sua também é ótima. é uma girafa né?
- é. a cabeça. o senhor ta indo pra casa? não curte carnaval?
- curto carnaval, claro. curto muito. e você, também ja ta indo embora?
- não, eu entrei no ônibus por causa de você.
o alce ficou me olhando com uma cara bem estranha. ele pensou que eu tava cantando ele, imagina.
- por causa de mim? - falou com um levantar de sobrancelhas
- é. eu sei de tudo.
- sabe?
- sei. de tudo.
- tudo o que?
- a sua fantasia.
- que que tem?
- essa fantasia
- não é fantasia, eu sou um alce.
- alce?
- é um alce. algum problema? nunca viu um alce? nós, alces, vivemos misturados a vocês. com identidades falsas. disfarçados.  nos dias de carnaval podemos sair as ruas tranquilos. é a melhor época do ano. Não temos de nos fantasiar de vocês. Podemos ser quem somos de verdade. um alce. e não é isso que é essa festa, o carnaval?
- eu sabia!
fiquei bem chocado, mas tava no fundo achando que tudo era uma invenção das cervejas que eu já tinha bebido no bloco.
- e aí? o que você vai fazer? - ele perguntou meio grosseirão
eu não soube o que dizer. ia gritar: socorro, tem um alce aqui no ônibus conversando comigo??!!!
é, talvez mas ninguém ia acreditar em mim e ainda iam me mandar calar a boca. resolvi:
- é...não, beleza. vou descer então que vou voltar pro bloco.
- ok.
- posso tirar uma foto sua? ninguém vai acreditar quando...
- não, claro que não. não pode.
- mas é que.
meu amigo, quando eu falei isso ele deu uma porrada com a pata, com o casco sei lá, no chão do ônibus que tremeu tudo. todo mundo olhou pra trás. pra mim. ficaram me olhando. o alce levantou o jornal e voltou a ler escondendo o rosto, deixando só o chifre a mostra.
- beleza então. vou lá.
- vai pela sombra. - ele ainda me sacaneou, o chifrudo
desci do ônibus pensando.
- caralho, ninguém vai acreditar. foda-se. depois eu escrevo e jogo no face.
tava voltando pro bloco, um sol do caramba, pensando naquele alce. nessa sociedade secreta que vive entre a gente. que coisa louca. esquece isso. eu to é muito louco. vou voltar pro ataque. olhei pro lado pra comprar uma cerveja, vi uma menina estranha de óculos me olhando. meio que esquivando. me olhando de longe. por entre as pessoas. meio  que se escondendo. ela tava com um jornal na mão e fumava cachimbo.
- oi. tudo bem? - perguntei pra ela.
- oi, tudo. queria falar com você - ela falou isso baixinho no meu ouvindo como se fosse um segredo muito íntimo. Opa!
- claro, pode falar lindinha...
-  você também é uma girafa?
- sou. girafa. gostou da cabeça da girafa?…
- espera. eu também sou.
- o que?
- girafa - baixinho de novo no meu ouvido.
- oi? - quando a ficha caiu
- eu não consegui me transformar. tô disfarçada de humano, me ajuda!
quero voltar ao normal! me ajuda.

(pano)





eu?

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to correndo.sempre pressa.meio atrasado.ligação perdida.olhar atento.desculpa o atraso.to indo embora.quer carona?aqui desse lado,aqui..assim mesmo.meu fluminense e meus desejos.um beijo do seu.eu aqui em qualquer lugar aqui, espaço pra vazão a idéias. ficção criando uma verdade pseudo pessoal. "eu quero uma verdade inventada"

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